"O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
Clarice Lispector

maio 22, 2015

Pena de Morte...?

     Este ano o Brasil se deparou com uma discussão que, a despeito da realidade brasileira que já aplica a pena de morte todos os dias nas favelas do país, não era usual: a punição de um crime com a pena de morte.
     A discussão surgiu por causa de dois brasileiros de classe média alta, brancos, que foram condenados à morte na Indonésia pelo crime de tráfico de drogas: Marco Archer tinha 53 anos e foi executado por fuzilamento em janeiro. Era carioca, nunca trabalhou, sempre foi traficante e estava preso há 11 anos. Morava naquele País há 15 anos e sabia que a punição para o crime que estava cometendo era a morte.Rodrigo Goulart tinha 42 anos e foi executado ontem, em 28 de abril. Era Paranaense, ganhou um restaurante de presente da família, mas não seguiu em frente com a carreira de empresário. Preferiu surfar e traficar.Os dois foram processados, julgados e condenados legitimamente. Os dois eram inquestionavelmente culpados pelo crime pelo qual foram condenados. A Indonésia não ratificou nenhum tratado internacional contra a pena de morte e esta conta com a aprovação de 70% do povo de lá. Pelo princípio da territorialidade, todo Estado deve ser soberano para aplicar a sua lei penal a todos os fatos ocorridos dentro do seu território, independentemente da nacionalidade do criminoso.
     Então, por que autoridades brasileiras e representantes de direitos humanos se mobilizaram em prol da clemência para os dois? Porque foi a primeira vez que um brasileiro foi executado em país estrangeiro, e eram brancos, bonitos e de família rica. Além disso, o posicionamento dos envolvidos do lado de cá se deveu não por um questionamento da validade da norma em si, mas por um questionamento da validade moral de se aplicar tal punição a um cidadão originário de um país sem tradição cultural de pena de morte. Com a globalização, nenhum país está totalmente livre para exercer a sua soberania sem levar em conta os apelos dos vizinhos internacionais, e cabe ao nosso governo, como porta-voz da cultura e da personalidade nacionais, expressar a sua indignação com uma penalidade que desafia os princípios de civilidade contrariando uma verdade universal e inquestionável, que é o direito à vida.

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