"O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
Clarice Lispector

agosto 17, 2013

Mundo Real

     Nossos olhos são fabricantes de pinturas. E  assim a vida vai se colorindo. Hora como uma galeria de arte, hora como um museu de Bad Art. Olhamos pela moldura acreditando ser uma janela para o mundo real, mas não é. É apenas a interpretação da nossa alma num determinado momento, em busca de um centro, em fuga de um caos. A nossa imensa necessidade de definir a existência e fixá-la em cores gravadas, em imagens estáticas. Superestimamos o foco e subestimamos o caos. Porque o foco aquieta e direciona mais rápido, mas o caos...esse dá trabalho e faz a vida parecer uma pintura de Picasso.

Um comentário:

Anônimo disse...

"É apenas a interpretação de nossa alma num determinado momento..."

Vejo muita lucidez na sentença acima... Poucas pessoas tem conceitos mais claros sobre quem em última instância: vê, ouve, sente, entende...

A vida é de uma complexidade tremenda... e gera até um certo desconforto ler algum pensamento iludido por pensar ser axioma cujo objeto é tornar simples a vida...
Para quem passa pela vida com a curiosidade de uma criança que de tudo quer saber e de repente se depara com ramificações sem fim que se desdobram em outras tantas, a impressão que fica é que poderíamos viver um milhão de anos que não conseguiríamos compreender 0,1% da Criação!

Mas internamente a inquietude por querer entender inquieta incessantemente a curiosidade, que é até difícil conter o tentar ver além, encontrar uma fenda que nos possibilite ver um palmo adiante...

O caos do qual todos querem fugir e se possível até negar a existência para não levantar suspeitas sobre alguma fragilidade pessoal é sempre uma oportunidade para buscarmos soluções criativas, mas sem conhecimento é quase impossível!

As questões fundamentais da vida, que a alguns inquieta mais profundamente e que muitos poucos tentam esclarecer, parecem o conjunto das Obras de Picasso, Dalí, Van Gogh, Monet, Renoir...